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TÓPICOS ESPECIAIS EM CIÊNCIAS HUMANAS E SAÚDE I: The dispute over diagnosis: construction, discussion and reconfiguration of psychiatric categories

Professores:
Benilton Bezerra Jr. e Rafaela Zorzanelli
Dia: Terças-feiras
Horário: 9:30 - 12:30
Início: 13/08/2012
Término: 26/11/2012

 

Ementa
Bibliografia indicada

 

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Ementa

O discurso da psiquiatria biologicamente orientada e as metáforas das neurociências vêm produzindo nas últimas décadas efeitos para além do campo estritamente clínico. Num quadro histórico em que o discurso científico em geral, e o da biomedicina em particular, ganham espaço cada vez maior na sociedade, a psiquiatria tornou-se um vetor de articulação de práticas e conceitos que influem fortemente nos processos de subjetivação e nas relações sociais atuais.

Conflitos acerca dos estatutos médico, social, epistêmico ou ontológico de doenças e transtornos mentais, assim como discussões sobre etiologia, diagnóstico e terapêutica têm sido permanentes na história da psiquiatria dos últimos 150 anos. Pois, embora não exista consenso sobre as numerosas doenças psiquiátricas, o fato de se caracterizar um dado estado físico-mental como doença, já constitui um determinado arranjo de poder no âmbito do social. As entidades patológicas tornam-se atores sociais reais, sempre que acreditamos em sua existência e agimos individual e coletivamente com base nessas crenças. A constatação desse fenômeno intensificou o debate sobre a legitimidade de certas categorias nosológicas psiquiátricas.

No entanto, entidades nosológicas - especialmente transtornos psiquiátricos - estão sujeitas à negociação em sua existência como fato social, que outorga ou retira uma determinada soma de poder aos que orbitam ao seu redor. Esta negociação assume faces diversas, quando não contraditórias. O uso de diagnósticos como meio de criar grupos de apoio e auto-ajuda ou de forçar políticas públicas favoráveis à pesquisa e ao tratamento das doenças é um exemplo de movimento que se apóia nos diagnósticos. Outros movimentos, porém, põem em discussão o próprio estatuto médico contido neles, como é o caso dos adeptos da anorexia como estilo de vida, ou do autismo como expressão de neurodiversidade a ser respeitada, e não de patologia a ser tratada. A querela dos diagnósticos e o modo como são negociados pelos diversos atores em nossa sociedade ganha cada vez mais importância e destaque na sociedade contemporânea.

O anúncio, em 2010, pela American Association of Psychiatry, de que a atual edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders – DSM) seria revisada, trouxe uma novidade em relação às revisões anteriores. Nessa, houve um convite à participação do público interessado, sobretudo, por meio de fóruns no cyberespaço. Esse processo epitomiza o que trataremos em nosso curso: as classificações diagnósticas e seus sistemas se deslocaram de uma confecção hermética entre especialistas para a esfera pública e, portanto, aberta à negociação, de acordo com interesses dos diferentes atores interessados (pacientes, grupos de apoio, advogados, indústria farmacêutica). É nesse sentido que se faz pertinente o estudo de textos que ofereçam subsídios para a pesquisa de processos de ascensão e desaparecimento de categorias diagnósticas, do modo como são contestadas dentro da própria medicina, de seu uso diferenciado pelos pacientes, e do modo como práticas diagnósticas são modificadas na esfera pública.   

  


 

Bibliografia indicada

• McGann, P J; Hutson, David J. Sociology of diagnosis. Bingley, U.K. : Emerald, 2011.

• Millon, Theodore; Krueger, Robert F.; Simonsen, Erik (org). Contemporary Directions in Psychopathology: Scientific Foundations of the DSM-V and ICD-11. New York: Guilford Press, 2010.